«A crise lança um desafio à nossa imaginação e à nossa solidariedade»
Enraizados na vida real, estes testemunhos tornam palpáveis as consequências da crise económica e financeira para as populações mais pobres. Como fazem elas para lhe resistir? Como esperam elas por uma «sensibilização planetária que possa ajudar os mais desfavorecidos»?
Do Peru:
«O desemprego alastra por todo o país como uma enorme nódoa de fuelóleo negro que polui todas as relações da sociedade. Para sobreviverem, as pessoas aceitam qualquer trabalho, quaisquer que sejam as condições impostas, e pondo muitas vezes em risco a sua própria segurança. (…) A nossa situação não é muito diferente da vossa. Mas, embora a doença do desemprego atinja o mundo inteiro – raras são as famílias em que não haja alguém desempregado – a febre é mais alta e muitas vezes o fim mais trágico nos países pobres. No Sul Andino do Peru começam a surgir iniciativas de desenvolvimento alternativo, durável e solidário. Animados por jovens camponeses, ajudados por alguns apoios estrangeiros, estes grupos de produção e de comercialização aplicam, valorizam e aperfeiçoam as experiências de solidariedade das comunidades andinas quechuas, respeitando a sua Terra-Mãe. A experiência não pretende ser unicamente uma solução ao problema da fome nos Andes, mas deseja também propor uma alternativa ao modelo económico atual. A crise lança um desafio à nossa imaginação e à nossa solidariedade.» Francisco FRITSCH
Do Brasil:
“A crise econômica atual agravou ainda mais a situação dos pobres das cidades. A cada dia que passa, a cidade fica mais cara para os trabalhadores que nela vivem. Diante dessa situação, 1086 famílias ocuparam em Abril de 2009 um latifúndio urbano que jamais cumprira sua função social e que pertence à cidade de Belo Horizonte. Neste momento essas famílias, vindas de vários lugares, a pé, de bicicleta, de ônibus coletivo (e muitas só com o dinheiro da passagem de vinda), vivem no Acampamento Dandara, com a esperança de um teto e de uma vida melhor. Mas estão ameaçadas de expulsão e de lhes cortarem a água…” Joviano Gabriel Maia Meyer e Frei Gilvander Moreira
Da Costa do Marfim:
«Queremos fazer tudo o que pudermos para que no futuro não falte comida na nossa região. Portanto, a nossa colheita vai sendo distribuída aos camponeses que mais precisam de sementes de arroz, para fazer reviver a região do Oeste montanhoso da Costa do Marfim. Este objetivo vai demorar a ser realizado porque nós estamos sozinhas, mas continuaremos sempre a seguir este caminho de esperança para ajudar as mulheres da nossa cooperativa.» Madame Madeleine GBLIA, Presidente da Cooperativa “A Graça das Mulheres”.
De Israel:
«O Centro Mahut desenvolve e aplica estratégias de luta contra a feminização da pobreza. Damos às mulheres os instrumentos necessários para elas arranjarem e manterem um emprego e para poderem avançar no mercado do trabalho. Fazemos muitos esforços para sobreviver a esta crise económica. E eu faço um paralelo entre a sobrevivência dos nossos participantes e a da nossa organização. Claro que não é a mesma coisa, mas viver e agir no meio de uma tal incerteza e com recursos que diminuem a olhos vistos não é nada fácil. A crise económica é também uma crise profunda de trabalho e as nossas mulheres são muito vulneráveis neste tipo de situação. Não me parece que elas tenham os recursos (económicos e psíquicos) necessários para a aguentarem muito tempo mais. Fazemos o que podemos para ajudar, mas acho que isso não basta. A crise financeira atual aumenta as diferenças sociais e a exploração que existe em relação às mulheres, mas talvez seja dessa crise que acabem por nascer algumas oportunidades de mudança.» Michal DAGAN, Mahut Center
Da República Centro Africana:
«Estamos a utilizar os conhecimentos e as experiências dos que nos precederam: ’a paciência do agricultor’ – é esse o nosso projeto. …Perante a crise alimentar mundial, o nosso projeto, desde o ano passado, tem consistido em desenvolver e apoiar as empresas familiares. A nossa escola agrícola foi lançada com esse espírito, e com 25 jovens agricultores… Mas nós aqui estamos conscientes das enormes dificuldades que se abatem sobre o mundo inteiro e sobre o mundo dito desenvolvido. E pensamos, sobre tudo, que as inúmeras vítimas desta derrocada económica e financeira se sentem ainda mais atingidas do que as populações muito pobres das nossas regiões que nunca tinham praticamente gozado do chamado progresso. Esperamos que esta crise favoreça uma sensibilização planetária que possa ajudar os mais desfavorecidos.» Irmão Christophe M. ECAC de Bossangoa. República Centro Africana
E agora ficamos impacientes à espera das vossas reações, comentários e observações. As perguntas seguintes talvez vos ajudem a formulá-las:
Quais são as consequências visíveis da crise?
- Para as pessoas desfavorecidas (agravação no seio das famílias, repercussões sobre a vida escolar das crianças, sobre a saúde, sobre o trabalho…)?
- Quanto às ações lançadas pela vossa associação? Em que campos ou domínios (saúde, nutrição ou outros)?
Quais são as reações suscitadas pela crise?
- Interrupção das atividades a longo prazo, por exemplo das ações de sensibilização, das inscrições nos registos civis, ou outras…
- Um aumento de solidariedade, através de pessoas que inovam e criam outras maneiras de viver (ou, por vezes, de sobreviver)? Como é que essa solidariedade se manifesta?