Apelar para os outros
Carta aos amigos do mundo N° 69
Agir para permitir que aquelas e aqueles que vivem na miséria possam manifestar a sua dignidade e a sua aspiração à liberdade, obriga a apelar para os outros: “Sabemos que sozinhos não conseguiremos atingir o objectivo fixado.”
A palavra “nós”é o fio condutor dos testemunhos apresentados nesta “Carta”. É uma palavra que reflecte a necessidade da união de acção perante o intolerável da exclusão e da humilhação. Agir para permitir que aquelas e aqueles que vivem na miséria possam manifestar a sua dignidade e a sua aspiração à liberdade, obriga a apelar para os outros: “O nosso programa é ambicioso, mas temos que fazer alguma coisa se quisermos tirar esta gente da extrema pobreza. Sabemos que sozinhos não conseguiremos atingir o objectivo fixado.”
Apelar para os outros é sinónimo de abertura, significa alargar os nossos horizontes, integrar outras aprendizagens e outros vínculos: “Tenho uma equipa constituída por 5 jovens de menos de 30 anos, e trabalhamos de mãos dadas num projecto de mini biblioteca num bairro pobre de Tarrafal (em Cabo-Verde), para os mais pobres terem acesso à informação. […] Tivemos apoio em livros por parte da Biblioteca Nacional, do Centro Cultural Português e da Caritas Cabo-verdiana. A Câmara Municipal do Tarrafal deu-nos o mobiliário.” “Os Centros de Reintegração Social acolhem condenados vindos de prisões tradicionais. O modelo APAC é centrado na valorização humana e busca estimular a autoconfiança e a disciplina. As forças policiais são substituídas pelo apoio voluntário da comunidade.”
Apelar para os outros, é tentar colocar acções aparentemente modestas no centro das políticas nacionais e internacionais: “A iniciativa foi integrada a partir de 2001 no programa de desenvolvimento da infância do ministério da Educação Nacional.” “Nesta aldeia, há à volta de sessenta mulheres de todas as idades que se revezam, em grupos de cinco, para se ocuparem de sessenta crianças… Os custos de funcionamento são pagos todos os meses pelos pais… A iniciativa tem o apoio da UNESCO, da UNICEF e da FiCeméa.”
Apelar para os outros, é inscrever-se num processo prospectivo: “Gostamos muito daquilo que fazemos. O que temos feito até agora de uma maneira intuitiva precisa de ser estruturado. Gostaria pois de trocar ideias sobre estes assuntos para poder melhorar os serviços prestados e assegurar a sua perenidade.” “Compreendi que éramos um povo imenso espalhado por todo o mundo, vivendo com uma mesma esperança; sofríamos as mesmas privações, o nosso sofrimento era o mesmo, mas resistíamos também da mesma maneira e, se quiséssemos mudar as coisas, […] tínhamos que nos implicar, tínhamos que trabalhar e, para isso, tínhamos que nos formar.”
Apelar para os outros, é ter a humildade de ir ter com os excluídos em busca de um caminho a seguir para conseguir estabelecer um contacto: “Por favor, deixe-me ajudá-la.”
No seguimento da campanha “Recusar a miséria, um caminho para alcançar a paz” (ver a “Carta aos Amigos do Mundo” nº 68), o Apelo à união para um mundo sem miséria, que segue junto, proclamará, de 17 de Outubro em 17 de Outubro, o número crescente daquelas e daqueles que desejam poder contar com todos os outros na sua busca de justiça e de fraternidade. Que sejamos cada vez mais numerosos a afirmar a nossa convicção.
Huguette Redegeld Vice Presidente