Um projeto de sociedade
A miséria e a exclusão podem apresentar um rosto diferente segundo os países, os sistemas políticos, as conjunturas económicas, as etnias, as culturas… mas, em toda a parte, as suas causas encontram-se enraizadas – e, por conseguinte, também a resposta adequada – no coração do homem. Nós não poderemos ser plenamente homens enquanto outros, mesmo a nosso lado, permanecerem desfigurados pela miséria. Os mais desfavorecidos obrigam-nos a ir até ao fim dos nossos ideais de fraternidade, de liberdade, de democracia e de paz.
Prioridade ao mais pobre
O Movimento ATD Quarto Mundo tem a vontade firme e constante de ir ao encontro das pessoas mais destruídas pela miséria; estas constituem o alicerce e a medida de todos os seus projectos.
Responder às suas expectativas e às suas aspirações é para nós a garantia de nunca deixarmos ninguém de lado.
Um compromisso de pessoas
As primeiras pessoas a recusarem a miséria são aquelas que dela sofrem. Os voluntários do Movimento escolheram caminhar com elas. Dia a dia escrevem o que descobrem junto dos mais pobres, o que estes lhes transmitem. Esta memória escrita permite-lhes um conhecimento capaz de compreender e de amar o povo da miséria. Alguns partilham a vida destas famílias habitando e agindo com elas nos bairros de miséria.
Uma Aliança
Também todo um conjunto de cidadãos, no seio de suas famílias, no seu meio profissional, associativo, cultural e espiritual fez aliança com o povo do Quarto Mundo.
Estes Aliados agem, para que os mais pobres sejam considerados como parceiros. Têm a missão de transformar as atitudes e os preconceitos da sociedade para com os mais desfavorecidos, de criar uma real solidariedade agindo a todos os níveis, para que as famílias mais pobres sejam tomadas em linha de conta na vida profissional, associativa, política e espiritual em que os Aliados participam. Um Aliado deve sempre perguntar-se: que devo fazer, para que os mais pobres tenham acesso ao meu mundo, às minhas coisas de cidadão de pleno direito?
Um Movimento familiar
Os mais desfavorecidos são muitas vezes considerados casos individuais e, como tal, são abordados pelas instituições, quando na realidade a família é para eles o último reduto de resistência à miséria. Ela constitui a esperança de ver as coisas mudar e de um amanhã melhor para pais e filhos.
«Que ao menos os nossos filhos não vivam o que nós já vivemos.»
Somos pois um Movimento familiar que acompanha as famílias desfavorecidas nos seus projectos prioritários, conduzindo com elas uma acção de desenvolvimento comunitário apoiando-se numa dinâmica de acção com as crianças e os jovens. Assim o bairro de promoção familiar de Noisy-le-Grand continua a ser hoje um projecto-referência de acção global para permitir aos mais pobres viver em família e participar na vida social. Os jardins-escola familiares vão no mesmo sentido. Aí são vividos tempos fortes à volta das crianças. O despertar dos pequenitos é favorecido, os pais aprendem uns com os outros e constroem a sua reflexão enquanto pais.
Um Movimento dos Direitos do Homem e da paz
Poder alimentar-se, ter uma habitação, ter acesso à cultura, ao saber, à saúde, ao trabalho, a Deus, ter a possibilidade de ser ouvido e de ser útil aos outros são liberdades e direitos fundamentais. Os mais pobres estão privados deles, porque a miséria é uma violação dos Direitos Humanos na sua totalidade. Recusar a miséria é abrir o caminho à Paz.
A cultura para romper com a assistência
O desenvolvimento cultural é um dos eixos da acção do Movimento : compreender o que somos e o que se vive, comunicar com os outros dá força para recusar a assistência, para se ir ao encontro de mais pobre que si e assim quebrar o elo da exclusão.
As Bibliotecas de Rua permitem às crianças da miséria desenvolver seu apetite pelo saber, pelo belo e, ao mesmo tempo, aprender a criar relações de amizade nos locais onde vivem, a partir dos livros.
Tapori é um movimento infantil que permite a amizade entre crianças vindas de todos os meios, através da reflexão sobre o que vivem e pensam as crianças mais pobres. A amizade é uma arma de luta contra a miséria.
Nas Universidades Populares, homens e mulheres reencontram a possibilidade de se exprimirem e aprendem a fazê-lo; aprendem também a partilhar suas experiências com cidadãos vindos de outros meios.
Nos bairros desfavorecidos, o Movimento organiza o Festival do Saber, onde artistas, atletas, profissionais são convidados a vir partilhar o que sabem e a viver uma nova solidariedade tendo por centro o saber partilhado.